quarta-feira, novembro 28, 2007

NUNCA ESTAMOS SÓS

Há um cântico que nos diz: “Não há deus maior, não há deus melhor, não há deus tão grande como o nosso Deus”. Verdadeiramente o Deus que se revelou na Bíblia é incomparável e insondável. No salmo 139 somos lembrados que tentar enumerar todos os pensamentos sobre quem é Deus e o que Ele fez e faz é como tentar contar os grãos da areia da praia. Tal tarefa nos é impossível. Com isso podemos afirmar que a nossa mente só é capaz de compreender uma parcela infinitamente pequena da grandeza de Deus. Ainda que o nosso Deus seja imenso e incomparável, Ele se faz presente em nosso viver, Se preocupa conosco e deseja nossa companhia. Assim, declara o salmista: “Para onde me ausentarei do Teu Espírito? Para onde fugirei da Tua face? Se subo aos céus, lá estás; se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a Tua mão, e a Tua destra me susterá” (Sl 139.7-10). Este é o ensino bíblico; não é que meramente Deus estaria vendo o salmista onde quer que ele fosse, mas Ele estaria ali para guiá-lo e sustentá-lo. Tal doutrina nos enche de perplexidade, gera reverência, mas, sobretudo, se revela confortadora ao verdadeiro cristão. Podemos ter certeza da atenção integral de Deus. E ainda que o nosso problema possa ser profundamente misterioso a nós e inteiramente incompreensível aos nossos amigos, podemos dizer, em nossos momentos de aflição, o mesmo que declarou Jó: “Mas Ele(Deus) sabe o meu caminho...” (Jó 23.10). Deus jamais nos abandona e pôr mais solitários que nos sintamos, nunca estamos sós.

segunda-feira, outubro 15, 2007

O CULTO CRISTÃO

A Reforma Protestante ressaltou a autoridade e a suficiência das Escrituras. Daí afirmarmos que a Bíblia é a nossa regra de fé e prática. “Toda a Escritura é inspirada”, afirmou o apóstolo. Portanto, no que diz respeito ao culto cristão, devemos nos orientar pela Palavra de Deus. A nossa Confissão de Fé nos diz: “...o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo, e é tão limitado pela Sua própria vontade revelada, que Ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens, ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível, ou qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras”[1]. A. A. Hodge comentando esta declaração afirmou: “Se Deus tem prescrito o modo aceitável de adorá-LO e serví-LO, é uma ofensa e pecado descuidar-se desse método ou preferir a prática inventada por nós...não só as doutrinas e mandamentos de homens, senão todo culto voluntário, isto é, atos e formas de culto inventados, são abominações para Deus”[2]. Vejam o exemplo bíblico de Abel e Caim (Gênesis 4.4-7). Reafirmamos que o culto é segundo a Palavra. “O problema de Caim e a aceitação de Abel é que no interior de ambos havia o chamado da Palavra; Abel resolveu obedecê-la e Caim resolveu seguir o seu próprio jeito. Esta é a primeira norma de Deus para o culto: ele deve ser bíblico, deve ser como Deus determina em Sua Palavra”[3]. Sendo assim, entendemos que Deus não somente ensina que devemos adorá-LO, mas também o modo como devemos adorá-LO. Então, a pergunta que devemos fazer antes de introduzirmos qualquer coisa em nossas liturgias deve ser: É bíblico? A Palavra de Deus nos ensina a adorarmos o nosso Deus deste modo?
Além de estar em concordância com a Palavra de Deus, o culto que prestamos a Deus deve proceder de uma vida cristã autêntica, isto é, exige vida de santidade, consagração. Lemos em Gênesis 4.4 que ”Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta”. Primeiro vem o nome do adorador e então o culto. Para Ele o importante é o adorador, vindo, a seguir, o culto. Deus não aceita culto de ímpios (Isaías 1.11-14). Certa ocasião ouvi algo que é verdadeiro e que se aplica aqui: “Se não há culto na vida não há vida no culto”.
Outro aspecto a se destacar é que o culto deve ser solene, respeitoso. Deus é excelso, grande, Santo e Se agrada da reverência de Seus filhos. Quando Moisés chegou em Sua presença, recebe a ordem de tirar as sandálias dos pés (Êx. 3.5). Participar de uma reunião onde não há solenidade, não há respeito, pode estar certo, não há louvor ali. “O verdadeiro louvor tem uma conotação de consciência de Quem é Deus. Devemos expressar aquilo que Ele é, conforme revelado nas Escrituras e que tem sido experimentado em nossa vida diária”[4]: E conhecendo o caráter de Deus, a nossa adoração, necessariamente, deve ser reverente, condizente com a revelação que Deus faz de Si mesmo.
Por último, o nosso culto, nossa adoração deve ser alegre. O louvor que oferecemos a Deus é a expressão de nossa gratidão por todas as bênçãos que recebemos de Suas mãos. A vida e a preservação dela, a inteligência humana, a comunhão com Ele e com os nossos irmãos, o consolo nas aflições e sobretudo a salvação e a vida eterna em Cristo Jesus. Quando louvamos a Deus, nosso coração, nossa alma deve estar alegre, grata, jubilosa. Não precisamos, entretanto, confundir alegria com um turbilhão de emoções incontidas, ferozes e irracionais. Paulo escreveu que devemos cantar com o coração, mas também com o entendimento (1 Co 14.15; Rm 12.1,2).
Nosso louvor, nosso culto deve ser bíblico, fruto de uma vida consagrada a Deus, respeitoso e alegre.



[1] CFW, Cap. XXI.I
[2] Comentário de La Confision de Fe de Westminster, p.251
[3] Figueredo, C.A., Louvor e Vida, p.20
[4] Costa, H.M.P., O Verdadeiro Louvor, p11

domingo, outubro 07, 2007

TUDO O QUE TENHO, TUDO O QUE SOU

Tudo o que tenho, tudo o que sou...
Nada é meu;
Sequer pertenço a mim mesmo;
Tudo devo somente ao Deus gracioso,
Que a mim a vida emprestou.

São dádivas do meu Senhor,
Tudo o que tenho, tudo o que sou.
Por isso peço-Te:
Ensina-me a ser-Te
Fiel ó Amado benfeitor!

Oh! Tu que andas na solidão da tua riqueza
E, insensato,
Declaras a ti mesmo:
"Alma!descansa, come, bebe e regala-te".
E no solilóquio não te dás conta da pobreza!

Deus, então, te adverte:
"Louco! Esta noite te pedirão a tua alma;
E o que tens preparado, para quem será?"
Nada levarás para a sepultura,
Para onde descerá teu corpo inerte.

A Ti devo, ó meu Senhor!
Não a outro.
Tudo o que tenho, tudo o que sou.
Aceita a gratidão, o trabalho e a obediência
Do servo que vive por Teu favor!

Baseado em Lucas 12.13-21

FAZENDO A VONTADE DO PAI

Jesus havia deixado a Judéia e ia em direção à Galiléia. Era costume dos judeus, ao empreenderem tal viagem, atravessarem o Jordão desviando-se de Samaria, uma vez que eles não se davam com os samaritanos. Contudo,cumprindo o propósito do Pai, era necessário a Jesus atravessar a província de Samaria.
Cansado e com fome, evidenciando Sua humanidade, o Mestre assentou-se junto a fonte de Jacó, enquanto Seus discípulos foram comprar alimentos. Ao regressarem O encontraram conversando com uma mulher samaritana e embora admirassem tal fato, nada disseram. Tendo a mulher deixado o seu cântaro e ido à cidade testemunhar de Jesus; Seus discípulos insistiram a Jesus que se alimentasse. Jesus, então, responde-lhes: "A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar sua obra" (João 4.34). Nosso Mestre não perdeu a oportunidade de ensinar aos discípulos uma grande lição.
Jesus estabeleceu como prioridade em Seu viver a realização da vontade de Deus. O Pai O enviara com um propósito, assim, cabia-Lhe envidar todos os esforços para que este propósito se concretizasse. A realização da obra é uma necessidade básica, inerente ao Seu Ser. Deste modo, fazer a vontade do Pai, é a Sua maior necessidade.
Temos nós também dado ao Reino a prioridade necessária? Temos empreendido todos os esforços para realizarmos aquilo para o qual fomos chamados? Muitos têm se esquecido do ensino de Jesus: "Buscai, pois, em primeiro lugar, o Seu Reino e a Sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas" (Mateus 6.33). Neste episódio aprendemos a importância de se realizar a obra de Deus. Ela tem que estar acima de tudo e de todos, deve ser a primazia em nosso viver. Que o Senhor nos ajude a viver assim!

segunda-feira, outubro 01, 2007

EU, UM SERVO?

Encontramos em Jesus, o Servo por excelência. Ele afirmou que “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate de muitos” (Marcos 10.45). A nossa nova vida em Cristo requer serviço, trabalho. “Por Jesus é trabalhar! Prontamente, fielmente, trabalhar! Em servi-Lo, que prazer! E só tu ó crente, o poderás fazer!”, diz um dos nossos hinos.

Impressiona-me a vida de um casal, Áqüila e Priscila. Em sua segunda viagem missionária Paulo os encontrou em Corinto. Levou-os a Éfeso, deixando-os ali. Depois, na segunda carta de Paulo nos diz: “Todos os irmãos vos saúdam. No Senhor, muito vos saúdam Áqüila e Priscila e, bem assim, a igreja que está na casa deles” (2 Co 16.19). Depois os encontramos em Roma e Paulo, na sua carta dirigida àquela igreja, escreve: “Saudai Priscila e Áqüila, meus cooperadores em Cristo Jesus...saudai igualmente a igreja que se reúne na casa deles” (Rm 16.3,5). Perceberam? Eram cristãos engajados na obra do Senhor e por onde passavam deixavam uma igreja! Precisamos de crentes assim!

Paulo nos diz: “porque de Deus somos cooperadores” (2 Co 3.9). Calvino afirmou que “algo extraordinário é dito aqui sobre o ministério, ou seja: que quando Deus resolve, por si mesmo, levar avante as coisas, Ele nos toma, seres insignificantes que somos, como seus auxiliares e nos usa como seus instrumentos”. Que privilégio tem o cristão! Foi convocado por Deus para engajar nas lides do Senhor!

Jesus contou-nos a parábola dos talentos para ensinar que os servos do Senhor devem ser fiéis, administrando pronta e eficientemente o que lhes foi confiado. S. Kistemaker comentando esta parábola declara: “O cristão que trabalha com fé colherá imensos dividendos. Ele não se preocupa consigo mesmo ou com seus próprios interesses, pois o que quer que tenha pertence ao Senhor, e o que quer que faça o faz pelo Senhor. Nenhum seguidor de Jesus pode jamais dizer que lhe faltam dons para o serviço, simplesmente por não ter a estatura de um Paulo, Lutero, Calvino ou Knox. A parábola ensina que cada um dos servos recebeu dons: “segundo a sua própria capacidade”. Jesus conhece a capacidade de cada cristão e espera receber frutos”. E você tem frutos a entregar ao Mestre ou só folhas?

sexta-feira, setembro 28, 2007

EU, UM DISCÍPULO?

Todo cristão é um discípulo. Embora, nem todo discípulo seja necessariamente um cristão. A Bíblia nos ensina que há casos que o discipulado é meramente nominal. Logo após Jesus ter afirmado ser o pão da vida, alguns dos seus discípulos se escandalizaram e João relata-nos: “À vista disso, muitos dos seus discípulos o abandonaram e já não andavam com Ele” (João 6.66). Jesus mesmo nos ensinou: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor’, entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (Mateus 7.21-23).

Como discípulos de Jesus, temos como alvo a maturidade da vida cristã. Nas palavras do apóstolo Pedro, devemos crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 Pe 3.18). D. Bonhoeffer afirmou que “o chamado ao discipulado é comprometimento com a pessoa de Jesus Cristo” e o Rev.J. Stott que “um cristão não é somente um crente justificado: é uma pessoa que foi unida com Cristo Jesus de uma maneira viva e pessoal”. O verdadeiro cristão é aquele que se relaciona diariamente com Cristo, anda no Espírito. Isto implica envolvimento, exige de nós tempo. E assim o cristão convertido terá que acertar a sua lista de prioridades. Somos desafiados a revisar nosso sistema de valores. Buscar em primeiro lugar o Reino de Deus, pensar nas coisas que são de cima, do alto. O Pr Paulo Solonca está certo ao nos advertir que “Deus está a procura de verdadeiros adoradores – homens e mulheres que estejam prontos a comprometerem-se com Sua Pessoa, Seus ensinos, Seu reino. Deus sempre condenou a falsa religiosidade do seu povo. Ele está farto de membros de igrejas, domingueiros que mais se identificam com agentes secretos da fé cristã do que discípulos comprometidos com uma causa”.

O verdadeiro cristão tem prazer na Lei do Senhor e valoriza toda e qualquer oportunidade de ouvir a Palavra de Deus, seja ela proclamada na escola dominical, no culto ou nos estudos bíblicos. Jesus nos ordena fazer novos discípulos, pois o método da evangelização divina é o homem. Mas Deus não pode fazer algo através de mim antes de fazer algo em mim.

Temos nós andado com Jesus? Podemos afirmar como Paulo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim? Há evidências de um discipulado verdadeiro em nossas vidas?

quarta-feira, setembro 12, 2007

EVANGELIZAÇÃO - Parte 3

Jamais devemos esquecer que o homem natural é incapaz de compreender por si mesmo a mensagem cristã. Paulo afirmou que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parece loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1coríntios 2.14). A Bíblia nos diz que os homens estão cegos (2Coríntios 4.4), surdos (Atos 28.26,27; João 8.43) e mortos (Efésios 2.1). Assim devemos nos lembrar que a conversão de alguém não depende do meu poder de persuasão e, sim, da ação sobrenatural do Espírito de Deus, pois é Ele quem convence o mundo do pecado, da justiça e do juízo (João 16.8). Assim devemos suplicar que o Espírito Santo nos use e, Ele mesmo, abra a mente dos que estão sendo evangelizados.

O apóstolo Pedro escreveu que o Senhor nos guia por seu exemplo (1Pedro 2.21). Devemos seguir os seus passos em todos os aspectos da vida, inclusive na maneira de testemunhar. Jesus em sua conversa com a samaritana junto ao poço de Jacó apresenta-nos alguns princípios que devemos seguir. Em sua oração sacerdotal, Jesus não rogou para que o Pai nos tire do mundo, mas que nos livrasse do mal. Assim, o primeiro passo no testemunho consiste em ter contatos sociais com os não crentes. Muitas vezes limitamos o nosso círculo de amizades aos irmãos da fé. Como poderemos levar pessoas a Jesus se não conhecemos os descrentes? Com isso, volto a dizer, que a igreja precisa ir em busca dos perdidos e a evangelização não pode ser limitada entre quatro paredes.. Jesus mesmo foi censurado por andar e comer com pecadores e em resposta afirmou que “os sãos não precisam de médico, e sim os doentes; não vim chamar justos, e sim pecadores” (Marcos 2.17). O segundo passo consiste em obter a atenção. O Mestre começou onde ela estava e iniciou sua conversa dizendo: dá-me de beber. Ele começou com algo que ela estava interessada. A partir daí, pouco a pouco, Ele desviou a conversa até chegar a uma realidade espiritual que ela nada sabia. O terceiro passo consiste em despertar interesse. A samaritana perguntou-Lhe: “Como, sendo tu judeu, pedes de beber a mim que sou mulher samaritana?” (João 4.9). O simples fato de Jesus conversar com aquela mulher põem abaixo barreiras sociais, religiosas, políticas e raciais. Assim, Ele a surpreendeu. E por não fazer discriminação, mas, antes, aceitá-la, conseguiu seu interesse. E mais ainda: “Replicou-lhe Jesus: Se conheceras o dom de Deus e quem é que te pede: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (João 4.10). Imediatamente ela respondeu: “...Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde pois, tens a água viva?” (João 4.11). Em quarto lugar, devemos levar as pessoas a desejar o que lhe oferecemos. João 4.14,15. Obviamente que sendo uma mulher de má reputação, tendo que ir ao poço ao meio dia, quando ninguém estava por perto, ela estava interessada em não ter que vir ao poço tirar água, do que não ter sede novamente. Depois Ele trouxe à luz, a evidência do seu pecado. Eis aí o quinto ponto: convicção de pecado (joão 4.16-18). Por último, devemos levá-la a tomar uma decisão. João 4.26. Ela deveria aceitá-lo ou rejeitá-lo.

O Rev. James Kennedy nos diz: “Devemos familiarizar-nos com essas leis de persuasão e usá-las quando criticamos a nossa apresentação do Evangelho, para ajudar-nos a detectar os lugares da nossa fraqueza. Devemos perguntar a nós mesmos:

Falhei em conseguir a atenção deles em manter seu interesse? Se foi assim, por que e como posso fazer para mudar isto?

Até que ponto despertei o seu desejo de conhecer a Cristo e fazer parte do Seu Reino? Como isto pode ser aumentado?

A pessoa ficou convencida quanto aos seus pecados e sua necessidade de perdão? Se não, por quê?

Confrontei a pessoa claramente, com a necessidade que ela tem de fazer uma decisão por Cristo e dedicar sua vida a Ele com arrependimento e fé? Se não, como posso melhorar para a próxima vez?”[1].



[1] Evangelismo Explosivo, p.47

terça-feira, setembro 11, 2007

EVANGELIZAÇÃO - Parte 2

I. O QUE É EVANGELIZAÇÃO?

O verbo evangelizar no Novo Testamento significa “proclamar boas notícias”, “anunciar boas novas” ou simplesmente “pregar”. A evangelização consiste na pregação do Evangelho, as boas novas. Tanto o Rev. J. Stott como o Rev. J. I. Packer afirmam que a evangelização não pode ser definida em termos de resultado. “Evangelizar, na acepção bíblica do termo, não significa ganhar conversos (como em geral se pensa, quando usamos a palavra), mas simplesmente anunciar as boas novas, independentemente dos resultados”[1]. Contudo, isso “não quer dizer que devamos ser indiferentes quanto a ver ou não os frutos do nosso testemunho em favor de Cristo; se não estiverem aparecendo os frutos devemos buscar a face de Deus para descobrir o motivo”[2]. A evangelização não consiste em somente informar, transmitir as boas novas, mas também a conversão do pecador. O propósito de Paulo na proclamação do Evangelho era salvar pecadores. Em sua 1ª carta aos coríntios (9.22) declarou: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos salvar alguns”. Obviamente que a Bíblia declara peremptoriamente que a conversão é obra do Espírito Santo. O Rev. J. I. Packer observa que curiosamente o termo “conversão” aparece em três passagens bíblicas[3] com a idéia de converter alguém a Deus, porém o sujeito do verbo não é Deus, como esperaríamos que fosse. Isso indica que a conversão de outras pessoas deve ser o objetivo dos cristãos. “Evangelizar, portanto, não é simplesmente uma questão de ensinar, de instruir, de proporcionar informações às mentes dos homens. É muito mais do que isso. Evangelizar inclui o esforço de obter resposta afirmativa à verdade ensinada. É uma comunicação que tem em vista a conversão. É uma questão não meramente de informar, mas igualmente de convidar. É uma tentativa de ganhar, conquistar ou atrair nossos semelhantes para Cristo” [4]. Devemos nos empenhar nesta tarefa tendo como alvo a conversão e salvação de pecadores. Devemos lhes expor o Evangelho de Cristo de forma clara e levá-los a uma decisão.

II. MOTIVAÇÃO PARA A EVANGELIZAÇÃO.

Já mencionamos que os irmãos do primeiro século demonstravam um ardor pela evangelização. Paulo o demonstra quando, em Mileto, falou aos presbíteros de Éfeso: “... jamais deixando de vos anunciar cousa alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa, testificando tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo”[5]. Mesmo que fossem humilhados, torturados ou até mesmo perdessem a via, os cristãos estavam dispostos a anunciarem as boas novas do Evangelho de Cristo. Surge, então, a questão: O que motivou os cristãos da igreja primitiva a desempenharem com tanto fervor a obra de evangelização? Michael Green, em sua obra Evangelização na Igreja Primitiva, sugere-nos três razões explicam a motivação dos nossos irmãos:

Primeiramente destaca o sentimento de gratidão. “Estas pessoas (os cristãos) não difundiram sua mensagem porque fosse recomendável fazê-lo, nem porque fosse sua responsabilidade diante da sociedade. Eles não o fizeram, em primeiro lugar, por razões humanitárias ou beneficentes. Fizeram-no por causa da experiência extraordinária do amor de Deus que Jesus Cristo lhes proporcionara” [6]. Paulo afirmou que “o amor de Cristo nos constrange”[7]. Calvino comentando o texto afirma que “o conhecimento do imensurável amor de Cristo, do qual Ele nos deu evidência em Sua morte, deve constranger nossos afetos de modo que não sigam outra direção que não a de amá-lo em retribuição... Todo aquele que deveras procura ponderar nesse maravilhoso amor torna-se, por assim dizer, ligado a Ele e constrangido pelo mais estreito laço; e se devota inteiramente ao Seu serviço”[8]. João, o apóstolo do amor nos lembra: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o Seu Filho como propiciação pelos nossos pecados. Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros ... E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou o Seu Filho como Salvador do mundo (...) Nós amamos porque Ele nos amou primeiro”[9]. A evangelização cristã tem sua motivação na obra redentora de Deus em favor dos homens pecadores. Bem observou o Rev. J.I. Packer que “se uma pessoa ama alguém, estará constantemente procurando descobrir a melhor coisa que pode fazer por esse alguém e a melhor maneira de agradá-lo, tendo prazer em planejar coisas lhe dêem prazer. Se, pois, amamos a Deus – Pai, Filho e Espírito Santo – por tudo quanto Ele tem feito por nós, então devemos reunir toda a nossa iniciativa e empenho para em cada situação, fazer o máximo possível para a Sua glória – e uma das principais maneiras de fazer isso é procurar meios de propagar o Evangelho, obedecendo ao mandato divino de fazer discípulos por toda parte”[10].

O conhecimento que temos do amor de Deus por nós impulsiona-nos a realizar Sua vontade. Em Marcos 16.15 lemos a ordem de Jesus: “ide por todo mundo e pregai o Evangelho a toda criatura”. Estaremos dispostos a superar qualquer obstáculo que nos impeça de pregar o Evangelho, cumprindo a vontade de Jesus? Pedro e João, sim. Quando exortados para que não mais ensinassem sobre Cristo, responderam: “Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos a vós outros do que a Deus, pois nós não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos” (Atos 4.19,20; ver também vv.29 e 31).

Se verdadeiramente amamos a Deus, guardamos os Seus mandamentos. Se de fato O amamos, proclamemos em todo parte e a todo homem a vida eterna que há em Jesus.

Em segundo lugar, o sentimento de responsabilidade. “Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar; pois sobre mim pesa essa obrigação; porque ai de mim se não pregar o Evangelho!” (1 Coríntios 9.16). Tais palavras evidenciam o senso de responsabilidade que tinha Paulo para com a evangelização. Jesus contou a parábola do servo obediente aos seus apóstolos, registrada em Lucas 17.7-10. O servo, depois de trabalhar no campo, tem de servir ceia ao seu senhor para depois se servir. Jesus, então, conclui: “Assim também vós, depois de haverdes feito quanto vos foi ordenado dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos apenas o que devíamos fazer”. Somos servos inúteis, a quem nada se deve. Se nos empenharmos na evangelização não faremos nada além daquilo que devíamos fazer. Devemos nos lembrar que chegará o dia em que compareceremos ao tribunal de Cristo, quando nossas obras serão julgadas. Paulo nos lembra que neste dia “não somente trará à plena luz as cousas ocultas das trevas, mas também manifestará os desígnios dos corações; e, então, cada um receberá o seu louvor da parte de Deus” (!Coríntios 4.5; ver também 3.11-15). Mchael Green afirma que “a idéia da responsabilidade pessoal e de prestar contas a Deus, o juiz soberano, era um estímulo importante à evangelização na igreja primitiva” [11]. Precisamos resgatar este sentimento de responsabilidade ao mesmo tempo em que nos lembramos que teremos que prestar contas a Deus por nossas obras.

Por último, o sentimento de preocupação. Quando observamos o ministério terreno de Jesus é possível ver a compaixão que demonstrava para com os pecadores. Na ocasião da segunda multiplicação dos pães e peixes Jesus disse: “Tenho compaixão desta gente...” (Mateus 15.32). Em outra oportunidade é relatado que Jesus observando as multidões, “compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor” (Mateus 9.36). A própria encarnação de Jesus é uma demonstração de compaixão para com os pecadores. E essa mesma compaixão é evidenciada na igreja primitiva, pois sabiam que a única esperança para o mundo era Jesus. “A preocupação pelos não evangelizados era uma das grandes forças motivadoras da pregação cristã do evangelho na igreja primitiva”[12]. O desejo de conquistar pecadores, livrando-os das trevas do pecado, deveria ser, e é, o fruto espontâneo de alguém que nasceu de novo. Em nós o amor de Deus foi derramado, assim devemos amar os que se perdem do mesmo modo que fomos amados. Não podemos viver indiferentes diante da terrível realidade, de que o meu vizinho, meu colega de trabalho ou de escola, e muitos dos nossos familiares estão perdidos, longe de Deus e se nós nos calamos eles viverão uma eternidade sem Deus. O segundo grande mandamento é o de amar o nosso próximo como a nós mesmos. E se nós os amamos devemos proclamar-lhes o Evangelho de Cristo, que bem maior poderíamos dar ao nosso próximo senão a salvação? O Rev. J.I. Packer afirmou: “o impulso de evangelizar deve surgir espontaneamente em nossos corações, ao vermos a necessidade que nossos semelhantes têm de Cristo”[13].

Se deixarmos de nos empenhar na evangelização e não proclamarmos a mensagem do Evangelho, seremos responsáveis pelo destino dos que não ouviram. Ezequiel 3.17.19. Paulo sabia disso e por isso aos presbíteros de Éfeso afirmou: “Portanto, eu vos protesto, no dia de hoje, que estou limpo do sangue de todos; porque jamais deixei de vos anunciar todo o desígnio de Deus” (Atos 20.26).



[1] Stott, J., A Base Bíblica da Evangelização, in A Missão da Igreja no mundo de hoje, ABU, SP, 3ª.

edição, 1989,p. 39.

[2] Packer, J. I., op.cit., p.30.

[3] Lucas 1.16; Tiago 5.19 e Atos 26.18.

[4] Packer, J.I., p.36.

[5] Atos 20.20,21.

[6] Green, M., Evangelização na Igreja Primitiva, Ed. Vida Nova, SP,2ª edição, p.290.

[7] 1 Coríntios 5.14.

[8] Citado por R. B. Kuiper in Evangelização Teocêntrica, PES, SP, 1976, p.81.

[9] 1 João 4.10-12,14,19.

[10] Op.cit., p.55.

[11] Op.cit., p.301.

[12] Green, M., op.cit., p. 302.

[13] Op. Cit., p.53.

segunda-feira, setembro 10, 2007

EVANGELIZAÇÃO - parte 1

É comum ouvirmos de alguns membros e, até mesmo, de presbíteros e pastores, que o importante não está nos números, mas, sim, na qualidade. Este tem sido o argumento usado para justificar a falta de crescimento nas igrejas presbiterianas. Quando observamos o relato bíblico, a igreja primitiva crescia tanto em número como em qualidade. A qualidade, não exclui, de maneira nenhuma, a quantidade. Lucas, em Atos 9.31, escreveu: “A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em números”. Por que hoje não pode ser assim? O Rev. Augustus Nicodemus nos diz:

Que motivos Deus teria para querer que as igrejas reformadas fossem pequenas e que os anos se passem sem que novos membros sejam adicionados pelo batismo? Que motivos secretos levariam o Deus que nos mandou pregar o Evangelho a todo o mundo impedir que as igrejas locais reformadas cresçam em um país livre, onde a pregação é feita em todo o lugar e onde outras igrejas evangélicas estão crescendo vertiginosamente? Penso que o problema da naniquice não está em Deus, mas em nós. Ai de nós, porque além de não crescermos ainda culpamos a Deus por isso! [1]

O Evangelho não mudou e muito menos o nosso Deus. Concordo com o Rev. Nicodemus que o problema está em nós. Havia na Igreja primitiva um ardor pela evangelização. Sua prioridade era a evangelização. Não pretendo desconsiderar a doutrina, a oração e a comunhão, que devem existir na Igreja. “Fomos chamados para sermos a Igreja e ao mesmo tempo proclamarmos as boas novas: as duas coisas são absolutamente indissociáveis”[2]. Observamos, porém, que na Igreja primitiva, cada cristão era um missionário. Lemos em Atos 8.4: “Entrementes, os que foram dispersos iam por toda a parte pregando a Palavra”. Com a perseguição que sobreveio à Igreja de Jerusalém, todos, com exceção dos apóstolos que permaneceram em Jerusalém, foram dispersos e por onde passavam proclamavam o Evangelho. Lamentavelmente, como M. Green observa, “hoje tudo tende a centrar-se em torno do pastor. Espera-se que o servo remunerado da Igreja empenhe-se em falar de Deus, mas não os outros”[3]. Temos sufocado o nosso impacto na sociedade porque a Igreja, bem estabelecida e socialmente aceita, tem limitado a proclamação da mensagem de Cristo a um único ponto focal: o prédio da Igreja; e a um único ponto vocal: o pregador no púlpito. “Na Igreja primitiva, a política adotada era ir ao encontro das pessoas, onde elas estivessem, e fazer discípulos entre eles ... A Igreja de hoje tenta a implosão, o convite, ou seja, procura “arrastar” o visitante; a Igreja primitiva praticava a explosão, a invasão, saía ao encalço das pessoas”[4]. A evangelização é a vocação de todos os cristãos; todos são chamados a testemunhar. J.I. Packer, em sua obra intitulada: Evangelização e a Soberania de Deus, afirma que “a comissão de pregar o Evangelho e fazer discípulos jamais foi limitada aos apóstolos. Nem está atualmente confinada aos ministros da Igreja. Trata-se de uma comissão que repousa sobre toda a Igreja coletivamente e, portanto, sobre cada cristão individualmente”[5]. Portanto, o triunfo da Igreja primitiva está no fato de que cada crente era um missionário. Além disto, precisamos considerar a natureza da Igreja. A Bíblia usa várias figuras referentes à Igreja. Ela é o corpo de Cristo, a noiva de Cristo, o povo de Deus. Em todas estas figuras o que se destaca é o fato da Igreja ser um organismo vivo. O problema que muitas vezes pensamos na igreja como uma instituição ou num prédio em um determinado lugar. A Igreja é viva e tem vida. E como tal é natural que cresça. Howard A. Snyder afirmou que, segundo as Escrituras, a “igreja é uma comunidade carismática” pois “é através da graça (charis) que ela é salva, e através do exercício dos dons espirituais da graça (carismata) que a igreja é edificada” [6]. Paulo, em Efésios 4.16, escreveu: “todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor”.



[1] Dez Motivos pelos quais pastores conservadores costumam ter igrejas minúsculas, postado no

Blog Temporas-More.

[2] Green, M., Evangelização na Igreja Primitiva, in A Missão da Igreja no mundo de hoje, ABU, SP,

3ª edição, 1989, p.78

[3] Op.cit., p.56.

[4] Green, M., op.cit., p.57.

[5] Packer, J.I., Evangelização e a Soberania de Deus, p. 33.

[6] Snyder. H. A., A igreja como agente de Deus na evangelização, in A Missão da Igreja no mundo de hoje,

ABU, SP, 3ª edição, 1989, p.90.

UMA MENINA ANÔNIMA - 2 Reis 5.1-19

No chamado sermão do monte, Jesus, dirigindo-se aos seus discípulos disse: “Vós sois o sal da terra”. Depois de descrever o cristão nas bem-aventuranças, Ele nos diz o que o cristão faz. Nós somos sal e, assim, devemos “salgar”. Deste modo, destaca-se a diferença que há entre os cristãos e os ímpios. E como afirmou o Rev. Stott , “a influência dos cristãos na sociedade e sobre a sociedade depende da sua diferença e não da sua identidade”. Em nosso texto encontramos uma menina que fez diferença na sociedade em que se encontrava. Era uma jovem que conhecia e temia ao Senhor e estando na Síria como escrava, ainda assim, pode salgar. Tal como o sal, ela deu um novo sabor a vida de Naamã. Assim,quero destacar algumas coisas que são relevantes na vida daquela menina que são relevantes também hoje.

Muitas pessoas acham que o “poder”, o “sucesso” e o “dinheiro” são as coisas mais importantes no mundo. Assim vivemos dias marcados pela disputa, pela competição a qualquer custo, gerando ódio e conflitos que resultam em guerra declarada. Por outro lado, a Bíblia deixa claro que existe uma coisa muitíssimo mais importante: o amor! O amor sempre foi e é a coisa mais importante do mundo! O amor é um conceito eterno, o qual se relaciona com a própria essência de Deus. Deus é amor, afirmou João. O apóstolo quis dizer que a natureza essencial de Deus, o Deus vivo e pessoal, é amor. Deus é a personificação do amor. Como cristãos somos convocados a amar como Ele nos amou.

A jovem de nossa história abrigava em seu coração o amor de Deus. Ela foi capaz de amar o seu senhor, quando poderíamos esperar o ódio. Naamã, o herói de guerra, comandante do exército da Síria, o algoz de Israel. Ele a levou cativa e a fez serva em sua casa. Talvez esperaríamos que houvesse em seu coração o ódio, o desejo de vingança. Ela bem poderia ter negociado com Naamã a sua libertação. Ou simplesmente ter dito que sua doença era castigo de Deus, por destruir o povo de Deus. Mas, não! Ela o amou a ponto de dizer: “Oxalá o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o restauraria da sua lepra”. Jesus, no sermão do monte, nos diz: “Ouvistes o que vos foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo: amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste...” Isto só é possível a aquele em quem o amor de Deus foi derramado. “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro”, escreveu João. Não é possível ter o amor de Deus e não ser capaz de amar ao próximo. É impossível ter um amor e não ter o outro. O amor cristão envolve a demonstração daquelas atitudes e ações para com os outros que Cristo demonstrou quando veio ao mundo e viveu entre os homens.

A menina anônima foi capaz de amar seu inimigo. E também foi testemunha do poder de Deus. Testemunhar, como um termo jurídico, consiste em “pessoa que viu e ouviu alguma coisa ou que é chamada a depor sobre o que viu e ouviu”. Aquela menina havia testemunhado os grandes feitos de Deus evidenciados pelo profeta Eliseu e, talvez, ouvido dos feitos do profeta Elias. Nos dias destes profetas, como uma nova etapa da revelação divina, muitos sinais e prodígios foram feitos. Ela sabia que o seu Deus era um Deus poderoso, capaz de mudar a vida de Naamã. Ela enxergou em meio à adversidade uma oportunidade de falar e testemunhar do poder de Deus. Ela não considerou sua posição, pois poderia ter pensado: eu sou uma simples escrava, por certo Naamã não me ouvirá. Mas ela não se calou, testemunhou do Deus de Israel. Quero lembrar-lhes ainda que somente aquele que verdadeiramente conhece a Deus e o Seu poder pode testemunhar. Era uma menina de fé! Seu testemunho levou a Naamã reconhecer que somente o Deus de Israel é Deus. “Eis que agora reconheço que em toda terra não há Deus senão em Israel. Nunca mais oferecerá este teu servo holocausto, nem sacrifícios a outros deuses, senão ao Senhor”.

Podemos também afirmar que aquela pequena seguiu o imperativo de Deus a Abraão: “Sê tu uma bênção”.

Bênção significa abençoar, tornar feliz. Aquela jovem trouxe a alegria a Naamã. Ele era um homem honrado, herói em sua terra e, como a Bíblia diz, “era grande homem diante do seu senhor, e de muito conceito”, contudo era leproso. A lepra era incurável naqueles dias, o que deveria causar-lhe grandes dificuldades, apesar de seu prestígio. E do mesmo modo que a luz dissipa a escuridão, a menina brilhou em meio às trevas. E que trevas. “Trevas de uma situação injusta na qual um povo vizinho, prepotente e cruel, fazia freqüentes incursões no território de sua gente, saqueando e levando presos indefesos cidadãos que, desse modo, se tornavam seus escravos”.

Necessitamos de mulheres, bem como verdadeiros crentes, que possam amar com o amor de Deus. Há uma sociedade que se perde sem conhecer a Deus e Seu amor. Compete a nós demonstrar o amor do Pai através das nossas atitudes. É preciso também testemunhar do poder de Deus. Muitas são as pessoas que estão contaminadas pela lepra do pecado e se deterioram dia após dia. Somente o poder de Deus pode restaurá-las, curá-las. E Deus nos usa para evidenciar o seu poder do mesmo modo que usou aquela menina. Devemos ser ainda bênção ao nosso próximo. È preciso que a nossa presença em meio aos ímpios possa abençoar, trazer a felicidade a estes que se perdem.

segunda-feira, maio 14, 2007

A REVISTA VEJA E A TEORIA DA EVOLUÇÃO

Vez por outra a mídia veicula notícias que visam abalar os fundamentos do cristianismo. Pouco tempo atrás foi o achado gnóstico intitulado “O Evangelho de Judas”. Na semana passada a revista Veja trouxe um artigo acerca da teoria da evolução de Charles Darwin. Ao ler o artigo encontramos algumas falácias do autor na tentativa de desacreditar o criacionismo bíblico e atestar o evolucionismo. Escreveu ele: “Essa visão pré-darwinista, que só sobrevive dentro dos círculos religiosos...” Ora, esta é uma inverdade, pois há cientistas que defendem o criacionismo. Posso citar o Professor E. H. Andrews, que tem um livro publicado pela Editora Fiel, intitulado, “No Princípio”. Há Também o Dr. Wilder-Smith que tem editado o vídeo: “Origens – A ciência a serviço de Deus” pela Reborn Vídeo. Outro logro do autor: “Darwin só tem inimigos fora da ciência”. Mas ele mesmo se contradiz, pois mais a frente escreveu que há uma teoria que afirma: “há elementos na natureza, como olho humano que têm uma estrutura tão engenhosa que só podem ter sido criados por um projetista, ou seja um ser superior”. Referia-se a Michel J. Behe, um bioquímico da Universidade de Lehigh (EUA), autor do livro: “A caixa preta de Darwin: O desafio da bioquímica à Teoria da Evolução”. “Inicialmente o professor Behe”, afirma o verbete da Wikipédia, “aceitava os conceitos da teoria geral da evolução, entretanto, (...) passou a questionar a teoria Darwinista. Mais tarde, Behe veio a acreditar que havia evidências, no nível molecular, de que os sistemas biológicos são “irredutivelmente complexos”. Estes sistemas não poderiam, mesmo no princípio ter evoluído pela seleção natural e sim projetados por um “desenhista inteligente”, e estas evidências o levaram a entender que a única explicação possível e alternativa à teoria geral da evolução para a existência de tais estruturas era a atuação de um projetista com propósitos racionais e finalísticos, ao contrário da escalada randômica da teoria da evolução”. Assim, como afirmou Orlando Tambosi da Universidade Federal de Santa Catarina, “Trata-se, portanto, de uma ‘obra de advocacia’ criacionista, e, pode-se acrescentar,numa versão requentada do velho Argumento teleológico. Com ela, a cruzada contra Darwin ganha novo alento”. Creio que a Revista Veja subestima a inteligência dos seus leitores.
A Bíblia afirma que “o homem natural (sem a experiência da regeneração) não aceita as coisas do Espírito, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las...” (1 Coríntios 2.14). Os homens ao resistirem à Verdade de Deus, tornam-se sujeitos ao juízo de Deus, “pois mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador” (Romanos 1.25). Permaneçamos com o ensino bíblico: “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem” (Hebreus 11.3). Não pensemos com isso que a fé é irracional, pois não é. Ela fundamenta-se na revelação de Deus.

terça-feira, abril 24, 2007

O AMOR GRACIOSO DO PAI

Dissoluto eu vivi,
Esbanjando a riqueza do pai
E, assim, tudo eu perdi.
Das alfarrobas desejei me fartar.
Miserável, faminto e sem amigos me vi.
Mas, nada, era tudo o que podiam me dar.
Nem assim me arrependi
E nem meu pecado eu quis confessar.
Somente como um assalariado quis trabalhar.
Mas o amor gracioso de meu pai,
O qual não me condenou nem me julgou,
Fez-me, então, enxergar
Como realmente sou,
E mesmo tão vil e pecador,
A misericórdia divina me transformou,
Fazendo-me compreender o eterno amor.
Eis que estava morto e revivi.
Agora inteiramente te dou,
Meu coração, ó Pai!
Quero, portanto, viver
Para sempre te alegrar!


Baseado em Lucas 15. 11-32


quinta-feira, abril 19, 2007

MARTYN LLOYD-JONES, A SEGUNDA BÊNÇÃO E O MINISTÉRIO PASTORAL

Dias atrás, conversava com um estudante de teologia e falávamos sobre livros e autores. Perguntei-lhe se havia lido os escritos do Dr. Martyn Lloyd-Jones. Sua resposta foi que tinha lido apenas um livro e depois emendou: “Mas ele crê na segunda bênção”.

Primeiramente é preciso dizer que o ensino de Martyn Lloyd-Jones é completamente diferente da doutrina pentecostal acerca da “segunda bênção”. Segundo Frederick Dale Bruner, em sua obra “Teologia do Espírito Santo”, a experiência pentecostal deve ser compreendida “como a experiência do batismo e conseqüentes dons do Espírito Santo” [1]. “A evidência glossolálica”, continua Bruner, “tem marcado o pentecostalismo. Argumenta-se até, e com seriedade, que o ato teológico de combinar o batismo no Espírito Santo com a evidência das línguas foi o catalisador que criou o movimento pentecostal” [2]. Para o movimento pentecostal ser batizado com o Espírito é uma doutrina fundamentada em Atos 2.4: “Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” , portanto,“ser pentecostal (...) é ser cheio do Espírito Santo da mesma maneira que eles (os discípulos em Atos 2) foram cheios com o Espírito Santo naquela ocasião” [3]. Para eles, o batismo com o Espírito Santo, é um evento distinto da conversão, é evidenciado pelo falar em línguas e deve ser buscado com sinceridade.
Lloyd-Jones, em seu livro “La Vida en el Espíritu” (A Vida no Espírito), interpretando o texto citado acima, nos ensina que o batismo no Espírito “é uma capacitação e investidura de poder com o propósito de realizar uma tarefa determinada” [4]. Sua argumentação se apóia em outros textos. Êxodo 31.2-4: “Disse mais o Senhor a Moisés: Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício, para elaborar desenhos e trabalhar em ouro, em prata, em bronze”. Lucas 1.15: “Pois ele (João Batista) será grande diante do Senhor, não beberá vinho, nem beberá bebida forte e será cheio do Espírito Santo. Lucas 1.41, 42: “Ouvindo esta a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre; então Isabel ficou possuída do Espírito Santo. E exclamou...” Lucas 1.67: “Zacarias, seu pai, cheio do Espírito Santo, profetizou...” (os grifos são meus). Em todas estas passagens vemos que “pessoas foram cheias com o Espírito e investidas de um poder e uma habilidade fora do comum” [5]. Este também foi caso de Pedro que, diante do Sinédrio, falou cheio do Espírito (Atos 4.1) e da igreja primitiva que após a oração, “...todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” (Atos4.31). Assim, conclui Lloyd-Jones,“um homem que é cheio do Espírito pode repentinamente ser cheio do Espírito Santo para um propósito especial” [6]. Esta bênção não é algo que conquistamos, mas é um milagre que Deus opera na vida do crente. O batismo com o Espírito Santo é “uma experiência definida. Todas estas pessoas eram conscientes do fato de que o Espírito Santo veio sobre eles, e que haviam sido investidos de novo poder com autoridade. Sabiam perfeitamente o que havia ocorrido. De modo que esta experiência descreve algo que nos ocorre; uma experiência em que somos conscientes de receber poder para um propósito específico. Por isso, dizemos que isto é algo distinto e claro” [7]. È isto que Martyn Lloyd-Jones chama de batismo com o Espírito Santo. Uma capacitação especial de poder para proclamar com intrepidez o Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Contudo, “é inútil esperar qualquer grande bênção de Deus se estivermos em desobediência” [8], isto é, em pecado.
A exortação paulina para encher-nos do Espírito (Efésios 5.18) não tem o mesmo significado que em Atos 2.4, quando os discípulos “ficaram cheios do Espírito Santo”. O movimento pentecostal faz confusão com a terminologia. Para Paulo ser cheio do Espírito é estar de baixo da influência do Espírito Santo. Isto acontece quando a nossa mente, coração e vontade, toda a nossa personalidade é controlada pelo Espírito de Cristo. Há uma distinção entre o batismo com o Espírito Santo e a plenitude do Espírito. Assim, “não pode ser ‘batizado com o Espírito’ sem ser ‘pleno do Espírito’. Mas é possível ser ‘pleno do Espírito’, pode estar cheio dele, sem experimentar ‘o batismo do Espírito’. O batismo é uma experiência distinta, concreta e especial” [9]. Mas a plenitude do Espírito, “não se trata de algo que é derramado em meu interior de modo q1ue eu tenha que esvaziar primeiro a fonte para logo recebê-lo. Essa forma de pensar é totalmente errônea e faz violência à pessoa do Espírito Santo” [10].

“Enchei-vos do Espírito” é um mandamento e não uma experiência. Nós devemos deixar o Espírito influenciar nossas vidas. O verbo está no tempo presente. Isto é significativo na língua grega, pois o tempo presente indica uma ação contínua. É algo que, momento a momento, devemos buscar. Outro fato a destacar é que o verbo encher está no plural, indicando que é um mandamento dado a todos os cristãos, principalmente a nós ministros de Cristo. Por último, o verbo está na voz passiva. A NVI traduz Efésios 5.18 corretamente: Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito. Mas isso não significa que somos passivos neste processo, pelo contrário, devemos deixar-nos encher pelo o Espírito.

A Bíblia nos aponta algumas condições que devem ser observadas para que possamos ser cheios do Espírito:

a) Não entristecer o Espírito (Efésios 4.30). Martyn Lloyd-Jones nos diz: “Se eu desejo ser cheio e controlado pelo Espírito, devo evitar que os meus desejos, paixões e meus apetites me controlem. Tampouco deve me controlar o diabo. Devo resistir ao diabo e também devo resistir ao ‘mundo’. Isso é óbvio; não devo contristar o Espírito. Se eu vivo uma vida de pecado, estou contristando-o; e se Ele está entristecido, não me controla” [11].
b) Não apagar o Espírito (1Tessalonicenses 5.19). O Espírito é uma pessoa, a terceira pessoa da Trindade, e habita no cristão para estimular, guiar, direcionar o seu viver. Todas as vezes que rejeitamos seus estímulos e idéias, nós o apagamos. Este direcionamento que recebemos do Espírito é através de sua Palavra. O Espírito e a Palavra estão intimamente ligados, pois a Escritura é o instrumento usado pelo Espírito para nos falar. Assim, deixar de ler, estudar e é apagar o Espírito.
c) Andar no Espírito (Gálatas 6.16). Aqui somos ensinados que, se andamos no Espírito, não satisfaremos a concupiscência da carne. Mas, somos nós que devemos andar. Depois, devo escutar a voz do Espírito. Ele nos fala através da Palavra, pois ela é a Palavra do Espírito (2 Pedro 1.21). A santificação consiste num processo de se conhecer a Palavra de Deus e aplicá-la em nossa vida. E quando isto ocorre o Espírito se alegra, pois permitimos que Ele governe nossas decisões, nossas ações e todo o nosso comportamento. “Os pastores têm de transformar em um assunto de prioridade e disciplina o ler, meditar e o memorizar as Escrituras. Eles também precisam orar pela obra do Espírito Santo em suas próprias vidas. Qualquer outro procedimento pastoral, que corresponda a menos do que isso, será uma prática espiritual incorreta” [12]. Que a plenitude do Espírito seja buscada continuamente e Deus, segundo Sua soberania, dispense-nos do seu poder para que muitas vidas sejam alcançadas pela Sua maravilhosa graça.



[1]Bruner, F. D., Teologia do Espírito Santo, p.46.

[2]Bruner, F. D., op. Cit. p.58.

[3] Op. Cit., p.45

[4] La Vida en el Espíritu, p.40

[5] D.M.Lloyd-Jones, op. Cit., p.41.

[6] Op.cit., p.42

[7] D.M.Lloyd-Jones, op. cit., p.40

[8] D.M.Lloyd-Jones, O Segredo da Bênção Espiritual, p.47

[9] D.M.Lloyd-Jones, op. cit., p.38

[10] D.M.Lloyd-Jones, op.cit., p.44

[11] Op. Cit., p.46

[12] Tomas K. Ascol in Fé para Hoje, número 16, 2002